Após recolher mais de 700 denúncias, realizar diversas visitas aos locais que prestam atendimento à população e ouvir inúmeros depoimentos, a CPI da Saúde está tentando traçar um perfil completo da situação da saúde na cidade. Nesta quinta-feira (28), os vereadores Gugu Bueno (PR), João Paulo (PSD) e Jaime Vasatta (PTN) realizaram nova oitiva para tomar o depoimento do médico da UPA 2, Celso Cardoso; da enfermeira da UBS de Rio do Salto, Silvana Machiavelli Schmitz; do Presidente do Conselho Municipal de Saúde, Antonio Vieira Martins e de José Alvanir Quevedo de Oliveira, ex-presidente do Conselho.
O depoimento mais polêmico foi de Cardoso, que criticou o repasse miserável do SUS aos hospitais. O médico afirmou, “este é um assunto que ninguém toca, mas a tabela do SUS é criminosa! No caso de um acidente vascular cerebral, por exemplo, o SUS paga R$ 398 com sete dias de internamento e mais todos os procedimentos e exames”. Cardoso criticou ainda a falta de triagem dos pacientes que chegam às Unidades de Pronto Atendimento, e censurou enfaticamente a “desova” de pacientes trazidos pelas rodovias pedagiadas para as UPAs, “pacientes de outras cidades como Corbélia, Catanduvas, Céu Azul são trazidos para cá sem o atendimento correto no trajeto, quando deveriam ser encaminhados direto para os hospitais”.
Questionado pelo vereador João Paulo sobre a conduta do médico Jetson Franceschi, preso em flagrante por não cumprir sua jornada de trabalho, Celso Cardoso afirmou “Jetson tem até o momento, nosso respeito, até porque segundo informações, ele estava autorizado a fazer aquele revezamento por falta de sala para atender”. Gugu Bueno lembrou Cardoso de que a Polícia apenas cumpriu com sua obrigação de prender em flagrante alguém que estava visivelmente praticando um delito e que seria uma piada dizer que um profissional que cumpria apenas 40 minutos de uma jornada de três horas, estava desempenhando seu papel. Outro trecho do depoimento de Cardoso foi destinado a criticar o modo como o governo federal está gerindo a saúde pública, “o governo federal está querendo exterminar a raça médica”, afirmou Cardoso, que acredita que a vinda de médicos cubanos através do Programa Mais Médicos é uma estratégia para implantar o sistema socialista no Brasil.
Já a enfermeira Silvana Schmitz, que trabalha no Programa Saúde da Família na comunidade de Rio do Salto, falou sobre a dificuldade de visitar todas as casas na área rural por falta de carros suficientes. Os vereadores questionaram Silvana em relação ao relato encaminhado à CPI, que versava sobre a morte de um morador da região. A Comissão queria saber se o paciente recebeu toda a atenção necessária e Silvana respondeu “sempre que precisamos acionar o SAMU, fomos atendidos, mas já ouvi relatos de pessoas que tiveram dificuldade em obter atendimento de emergência”. Silvana relatou ainda que o morador foi assistido todo o tempo pelo médico da unidade, por ela e mais uma auxiliar.
Os últimos dois depoimentos foram tomados dos voluntários ligados ao Conselho Municipal de Saúde, Antonio Martins e José Quevedo de Oliveira. O atual presidente creditou o mau funcionamento da saúde ao baixo investimento em saúde básica e em consultas de qualidade e também à baixa participação popular nas conferências municipais da saúde. Segundo Martins, mais de 5.000 pessoas estão esperando por uma cirurgia eletiva atualmente e o SUS paga muito pouco pelos serviços necessários, “todos os dias encaminhamos pessoas ao Ministério Público para forçar a internação de pacientes em situação de risco, então o diretor da 10ª Regional não pode afirmar que não existe carência de leitos em Cascavel”, finalizou.
José Quevedo de Oliveira, ex-presidente do Conselho, disse aos vereadores que falta transparência em todos os processos relacionados à saúde na cidade. É preciso saber, segundo ele, como andam as filas para exames e internações, como são feitos os procedimentos e todos os meandros do sistema público. Oliveira finalizou, “uma coisa eu posso afirmar, quem morre mais em Cascavel são os idosos e os pobres”.
A CPI continua com os trabalhos nas próximas semanas e deve prorrogar a data para produzir o relatório final até março de 2014. O prazo regimental para finalização dos trabalhos é de 120 dias, mas devido ao excesso de denúncias, os integrantes pedirão a prorrogação possível de 60 dias.
Regina Krauss/Assessoria de Imprensa/CMC
Legenda: Comissão toma quatro novos depoimentos
Foto: Flavio Ulsenheimer/Assessoria Câmara Cascavel