Nesta quarta-feira, dia 03 de dezembro, militantes de todo mundo celebram o Dia Mundial da Luta contra os Agrotóxicos. No Brasil, atos em várias cidades serão organizados pela Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida, articulação permanente de diversos movimentos sociais, sindicais e setores de toda a sociedade civil contra o uso deste tipo de produto.
A data, referente à tragédia ocorrida há 30 anos na cidade de Bophal, na Índia, foi lembrada nesta terça-feira (02) durante sessão da Câmara de Cascavel em pronunciamento do vereador Paulo Porto (PCdoB). O parlamentar recordou o acidente que matou mais de 30 mil (ler abaixo) e trouxe dados alarmantes do uso de agrotóxicos na região Oeste do Paraná.
Enquanto a média nacional de consumo de agrotóxicos por ano é de 5 litros por pessoa, na região o consumo é de 12 litros por ano. Segundo dados da 10ª Regional de Saúde do Estado, entre 2007 e 2014, foram registrados 3.229 casos de intoxicação, sendo que 645 notificações em decorrência do uso de agrotóxicos agrícolas, raticidas e agrotóxicos domésticos, o que representa 20% do total de intoxicações.
A maior parte desses registros aconteceu em Cascavel, com 2.433 casos, equivalente a 75,3%. A pulverização aérea representa 25,5% dos casos de intoxicação por agrotóxicos. Entre 2007 e 2014, a 10ª Regional registrou um total de 35 óbitos por intoxicação, sendo 12 deles em virtude dos agrotóxicos.
O uso de agrotóxicos no Paraná cresceu 20%, entre 2008 e 2011, segundo o Ipardes (Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social). O Estado consome por ano 96,1 milhões de quilos de agrotóxicos, que representa mais de 9 quilos por hectare de área plantada, 03 vezes mais que a média nacional.
Esses números que se acentuam no Oeste do Estado. Em Cascavel, por exemplo, a quantidade de tóxicos nas plantações é de 23 kg por hectare ano. “Apesar do crescimento do uso de agrotóxicos, a produção neste período se manteve praticamente estável. Ou seja, está se utilizando mais veneno para produzir a mesma quantidade de comida”, comentou Paulo Porto.
Além da contaminação direta dos alimentos, os agrotóxicos são a segunda maior causa de contaminação dos recursos hídricos no país, atrás somente do despejo do esgoto doméstico. “Por tudo isso nosso mandato se solidariza com essa luta, pois além de internacional é uma luta local e regional. Como dizem os companheiros da Via Campesina, globalizemos a luta, globalizemos a esperança”, concluiu o vereador.
Histórico
A tragédia de Bophal aconteceu há 30 anos, no dia 3 de dezembro de 1984, em uma zona densamente povoada. De 27 a 40 toneladas dos gases tóxicos metil isocianato e hidrocianeto, químicos utilizados na elaboração de um praguicida da Corporación Union Carbide, vazaram e se dissiparam pela cidade, quando seis sistemas de segurança não funcionaram.
Cerca de 30 mil pessoas, oito mil nos três primeiros dias, morreram devido ao acidente e, ainda hoje, estimativas indicam que 150 mil sofrem de doenças crônico-degenerativas causadas pela exposição aos gases letais.
A Union Carbide, posteriormente adquirida pela Dow Química, ainda se nega a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, dificultando que o tratamento médico adequado fosse dado aos indivíduos expostos. A região nunca foi descontaminada e até hoje representa um perigo à população.
O desastre químico foi considerado o pior da história e a data foi estabelecida pela Pesticide Action Network (PAN) como o Dia Internacional do Não Uso de Agrotóxicos. A Dow é hoje uma das 6 gigantes do mercado de venenos e sementes transgênicas, e em 2012 faturou U$ 60 bilhões. “Essa tragédia foi um dos maiores enterros coletivos da história. Um escândalo que muita gente não tem conhecimento, por ser maquiado pela grande mídia mundial, pois aconteceu na Índia, com pessoas pobres e por ter como responsável uma grande multinacional da produção de agrotóxicos”, destacou Porto.
Julio Carignano / Assessoria do vereador Paulo Porto