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Em discurso na Câmara, Porto lembra os 50 anos do golpe civil-militar

Os 50 anos do golpe civil-militar que instaurou um regime ditatorial no Brasil em 1º de abril de 1964 foi lembrado nesta terça-feira (1º) na Câmara Municipal de Cascavel em pronunciamento do vereador Paulo Porto (PCdoB). O parlamentar destacou que a data é um momento de restabelecimento da verdade histórica e lembrança dos heróis da pátria que lutaram contra o período que jogou o Brasil nas trevas dos porões, calabouços e das covas sem nomes.

Para Porto, que é historiador por formação, a coincidência do dia do golpe ser na mesma data do "dia da mentira" é sintomática para desmistificar algumas mentiras dos golpistas que ainda são repetidas por apoiadores da ditadura militar no país, ao começar pela própria data, uma vez que os golpistas de ontem e hoje ainda fazem referência ao 31 de março como sua data oficial de "comemoração", pelo temor de que o movimento ficasse conhecido como o "Golpe do 1º de abril".

O vereador enumerou as inverdades utilizadas como armas que orquestraram um golpe de estado. "Há 50 anos se inaugurava um dos momentos mais violentos e tristes de nossa história que perdurou por 21 anos; foram duas décadas de mentiras repetidas, pois como já dizia [Joseph] Goebbels, ministro da propaganda do nazismo alemão, uma mentira repetida várias vezes se torna verdade para alguns. A primeira mentira é tratar como "revolução de 64", pois foi uma ação que derrubou o presidente eleito democraticamente, João Goulart [Jango]. Foi um golpe clássico e da pior espécie", afirmou.

Porto questionou o argumento de que tratou-se de um golpe "nacionalista", uma vez que a historiografia já comprovou a participação e amparo do capital internacional, em especial o apoio dos Estados Unidos ao golpe. "Não teve nada de nacionalista, foi um golpe entreguista. Jango sim era um nacionalista e sintomaticamente após ele propor a lei da remessa de lucros das multinacionais vem o golpe com o apoio explícito dos EUA", argumentou Porto, lembrando de arquivos abertos da época comprovam a participação da CIA (agência de inteligência americana) e do então presidente norte-americano Richard Nixon.

Outro argumento ainda utilizado por saudosos da ditadura de ontem e hoje é que o golpe "teria livrado o Brasil do comunismo". "Essa talvez seja a maior bobagem dita, Jango não era comunista, isso foi um pretexto dos agentes do regime na esteira da Guerra Fria para criar um pânico na população, assim como dizer que o golpe foi para evitar a luta armada, uma vez que ela só se dá a partir do momento em que são esgotadas todas as possibilidades de negociação democrática com um estado que se torna um regime de exceção, um terrorismo de estado", ressaltou Porto.

Finalizando o rol de inverdades desmistificadas, o vereador questionou o chamado "milagre econômico", denominação dada aos indicadores do setor durante o governo do general Garrastazu Médici (1969-1973). "Foi nesse período que o Brasil ampliou sua dívida externa em dez vezes. Basta voltar aos anos de 1980, na redemocratização e o famoso aviso do "não há vagas". Foi a chamada década perdida, herdeira do desastre econômico que foi o período militar".

Para concluir, Porto apresentou as tristes estatísticas oficiais que apontam 448 mortos e 126 desaparecidos do período e nominou alguns personagens que simbolizam a luta contra a ditadura, entre eles Carlos Marighella, Mauricio Grabois, Carlos Lamarca, Vladimir Herzog, Pedro Pomar, Honestino Guimarães, Rubens Paiva, entre outros. "Não há nada a comemorar, pois como disse a presidenta Dilma Rousseff - que lutou contra a ditadura - existem muitos filhos procurando pais, pais procurando filhos, muitos túmulos sem nomes e muitos túmulos sem gente".

Julio Carignano/ Assessoria de imprensa Paulo Porto