No último dia de trabalhos abertos ao público da CPI do Cisop, foram convocadas cinco testemunhas para depor. Quatro compareceram às oitivas, ausentando-se apenas a ex-estagiária e sobrinha de Darci Tirelli, Milaine Koprowski.
A declaração da segunda testemunha, Nelci de Souza, chocou os vereadores e o plenário. Nelci é portador de hanseníase, uma doença crônica que possui previsão de tratamento gratuito pelo SUS. Paciente há 10 anos do Cisop, Nelci procurou os vereadores pedindo ajuda, pois sua condição de saúde piora a cada dia e o paciente prefere ter as pernas amputadas a continuar fazendo consultas, nas quais, segundo ele “o médico nem olha para as sequelas da doença nas minhas pernas”.
O vereador Romulo Quintino (presidente da comissão), demonstrou preocupação com o caso “este é mais um dia triste para a saúde de Cascavel. Este paciente está desde 2005 sendo desprezado e abandonado pelos médicos e por todo o sistema de saúde”. A CPI entrará em contato com o secretário estadual de saúde, Michele Caputo, pedindo providências para o caso de Nelci. Os vereadores pediram ainda ajuda à imprensa e autoridades para denunciar este e outros casos semelhantes.
Foi interrogado também o médico Ricardo Araújo, cirurgião vascular, filmado durante atendimento no consórcio entregando cartões da clínica particular na qual atende. Os vereadores questionaram ainda o cumprimento de carga horária do médico e a indicação para exames na clínica.
Ricardo justificou que os pacientes são instruídos pelo Cisop a comparecer antes do horário da consulta para a triagem. “Tento ajudar os pacientes que decidem por conta própria procurar a clínica onde atendo cobrando um valor menor daqueles que vêm do SUS”, afirmou. Os cartões seriam entregues somente aos pacientes que solicitavam o endereço do consultório, que possui também um contrato para realização de exames com o Cisop.
Questionado pelo vereador Jorge Bocasanta (relator), Ricardo assegurou já ter denunciado ao Ministério Público a precária situação de sua especialidade na região, “eu sou um dos poucos médicos vasculares que atende pelo SUS, no entanto, não conseguimos encaminhar os pacientes para cirurgia, pois não há um leito sequer nos hospitais”.
A respeito da gestão do consórcio, foram inquiridos o diretor administrativo, Airton Simonetti e a secretária executiva, Nelva Savaris. Os dois foram questionados acerca das denúncias recebidas pela CPI, tais como o suposto favorecimento na contratação de funcionários, o cumprimento da carga horária do estágio de Milaine Koprowski e a compra de livros de Direito que teriam sido utilizados para fins pessoais pela ex-estagiária, o pagamento de contratos ainda em fase de discussão judicial e a falta de uso de equipamentos para exames quer permanecem sendo terceirizados.
Simonetti acredita que “os equipamentos foram encaminhados pelo governo estadual com muita antecedência. Não temos condições físicas de colocar em funcionamento estes aparelhos”. O diretor calcula que se gastaria em média R$ 160 para realizar o exame no consórcio, valor semelhante àquele pago pelos contratos com as clínicas.
Nelva Savaris destacou que a responsabilidade pela atenção secundária, dos especialistas, é do governo estadual, no entanto, os municípios têm arcado com este ônus. Para Bocasanta, o mesmo valor investido pelos municípios deveria ser utilizado para fazer consultas e cirurgias, melhorando a resolutividade dos casos.
CPI
As oitivas da comissão parlamentar de inquérito terminaram hoje. Foram convocadas 26 testemunhas e solicitados inúmeros documentos oficiais. Os vereadores realizaram visitas oficiais ao consórcio e também acompanharam o atendimento habitual aos pacientes. Para possibilitar a redação minuciosa do relatório final, a CPI pedirá prorrogação do prazo. O presidente da CPI, Romulo Quintino, já assegurou que “o relatório será encaminhado ao Ministério Público para que todos os fatos investigados sejam apurados pelo órgão”.
Assessoria de Imprensa/CMC