A lei que proíbe o consumo de narguilé em locais públicos e venda para menores de 18 anos completou um ano em julho. Quando aprovado, o projeto de autoria do vereador Claudio Gaiteiro (PSL), gerou controvérsia. De um lado, os defensores de que a prática causava problemas à saúde e havia causado acidentes sérios envolvendo adolescentes. Do outro, parte da sociedade criticava a interferência do poder público em uma questão privada.
De acordo com os fiscais da Secretaria de Meio Ambiente, que atuam na fiscalização especialmente na região do lago, o consumo de narguilé no local diminuiu em até 90%. Antes da implantação da lei, formavam-se, segundo eles, até 20 grupos nos passeios públicos. Além das substâncias habituais usadas no narguilé, muitos usuários misturavam outras drogas ao produto, aumentando o risco de dependência e também de danos à saúde.
No texto da lei, estava prevista a instituição de campanhas e avisos para informar e conscientizar a população. A Secretaria de Saúde afirma estar realizando um trabalho contínuo de esclarecimento da população a respeito do uso do narguilé e dos riscos do tabagismo de modo geral. Já o vereador Claudio Gaiteiro esclarece que pelo menos 100 placas foram instaladas em diversos pontos da cidade, tais como praças, parques e na Avenida Brasil. Apesar disso, poucas placas restaram. Carlos Casarotto e Vanderlei Marques, ambos fiscais da Secretaria de Meio Ambiente, explicam que no lago, por exemplo, apenas uma ainda não foi arrancada por vândalos.
Alguns comerciantes, especialmente de postos de combustíveis, decidiram por conta própria colocar placas de alerta aos consumidores frequentes de narguilé e os orientam para não fumar no local. No entanto, principalmente na região da FAG, podem ser vistos diversos grupos fazendo uso de narguilé já no início da noite em bares e até nas calçadas.
A população, porém, mostra que está ciente do que prevê a lei. Em conversa com famílias durante a produção da reportagem, o vereador Claudio Gaiteiro pode observar que os pais tinham conhecimento da legislação em vigor e estavam preocupados com a “moda” do narguilé entre os filhos. Para Claudio Antunes, a problema pode ser visto de perto, “tenho um adolescente em casa e já tive de jogar fora o narguilé que ele estava usando. Nós estamos tentando conscientizar nosso filho, mas nesta fase da adolescência é difícil, pesa muito a influência dos colegas”. Eliane Bernardes, mãe de duas crianças, também expressou sua preocupação “a gente vê os adolescentes fumando em várias praças e na rua mesmo. Não quero que isso influencie o comportamento futuro dos meus filhos”.
Claudio Gaiteiro se considera feliz pela repercussão da lei. Segundo ele, com a cobertura da imprensa, muitas famílias foram conscientizadas e puderam instruir seus filhos, “nosso objetivo foi alcançado, se ajudarmos a salvar apenas uma vida, já valeu a pena”. O vereador lembra o acidente ocorrido em 2013 em Cascavel, quando um jovem de 16 anos teve 70% do corpo queimado ao tentar acender o narguilé. Em Foz do Iguaçu, um ano antes, uma adolescente faleceu em decorrência das queimaduras e de falência múltipla dos órgãos. A jovem ficou ferida ao tentar usar álcool comum para acender o narguilé, prática considerada perigosa e inadequada.
Consumo de Narguilé
O narguilé ou arguilé, como é conhecido popularmente, virou moda no Brasil. Muito utilizado na cultura árabe, indiana e turca, o narguilé é um cachimbo de água preparado com um fumo especial, feito com tabaco, melaço e frutas ou aromatizantes. O tabaco é aquecido e a fumaça gerada passa por um filtro de água antes de ser aspirada pelo fumante, por meio de uma mangueira.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o uso de narguilé está relacionado ao desenvolvimento de câncer de pulmão, doenças respiratórias, doença da gengiva e, no caso de gestantes, com o baixo peso da criança ao nascer, além de câncer de boca e bexiga, aterosclerose e doença coronariana. O alto índice de tabaco também pode levar a dependência de nicotina.
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estimam que cerca de 300 mil pessoas sejam adeptas deste hábito no Brasil. A preocupação chegou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estuda proibir a venda de fumos saborizados no país.
Assessoria de Imprensa/CMC